quinta-feira, junho 02, 2005

A Dessacralização do PT

Recife, 2 de junho de 2005.



João Rego

É bastante conhecida, para quem estuda partidos políticos e sistemas partidários, a tendência ao deslocamento ideológico da esquerda para o centro, dos partidos progressistas quando assumem o poder.

A realidade social, com suas vicissitudes, atua contra os desejos de quem governa. Esta tem o poder de dissolver aquela visão idealizada da política e seus destinos.

A estratégia, para quem está no poder, é governar encarando de frente este novo e ameaçador ambiente, procurando materializar com efetividade as políticas públicas apresentadas na campanha, sem se afastar do eixo ético-ideológico que fundou o partido.

Governar, garantindo sua identidade, mesmo diante da necessidade de estabelecer alianças e coalizões com outros partidos, é um imperativo para qualquer partido estruturalmente consolidado.
(...continua ...)



João Rego é psicanalista, mestre em ciência política, membro do Traço Freudiano Veredas Lacanianas Escola de Psicanálise. É presidente do Instituto Política e Democracia www.politica-democracia.com

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terça-feira, julho 29, 1997

Eleição e a Formação da Cidadania.

João Rego - Artigo publicado no Jornal do Commercio em 29 de julho de 1997



Se voltarmos os olhos para os últimos anos do processo político no Brasil, poderemos distinguir dois momentos: o primeiro, o momento da transição para a democracia que foi de 1979 (com a lei de anistia e reativação do multipartidarismo) até 1989 (eleições presidenciais), e o segundo é o que poderia ser chamado de o momento operativo da democracia, que teve início com as eleições presidenciais de 1989.

A principal característica deste último é o fato de já termos todas as instituições que fazem uma democracia, consolidadas estruturalmente. Os partidos políticos que surgiram e vêm se estruturando ao longo de quase duas décadas, é a maior prova desta afirmativa.
O sistema partidário brasileiro está estruturalmente consolidado. Exceto por ajustes na legislação eleitoral, não se deve esperar mais dele do que já vimos tendo.

A questão da democracia já não depende da institucionalização de alguma instância que esteja por se implantar. O desafio está em aprimorar a qualidade deste momento operativo, aprofundando e expandindo as diversas formas de ação política capaz de gerar transformações estruturais na sociedade. (...continua ...)


João Rego é psicanalista, mestre em ciência política, membro do Traço Freudiano Veredas Lacanianas Escola de Psicanálise.


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sexta-feira, setembro 30, 1994

Desmistificando a política.

João Rego - Artigo publicado no Jornal do Commercio em 30 de Setembrode 1994
Se formos analisar, de maneira cuidadosa e desapaixonada, o quadro político nacional, mais especificamente o período pós-transição democrática (após 1979), conseguiremos destacar, para efeito de uma visão mais abrangente, duas entidades em sua formação estrutural.

A primeira é a classe (ou elite) política democrática, que vem sofrendo, dentro da dinâmica consolidadora de um regime democrático, importantes transformações, através da atuação das instituições e da sociedade civil, projetando-a para um futuro qualitativamente superior porque estará cada vez mais subordinada, de fato, ao peso do controle das instituições.

A segunda é a sociedade civil, que vem percorrendo um tortuoso e íngreme caminho em busca de cristalizar vetores organizados de ação política a fim de desempenhar bem seu papel no processo democrático.

Que estranha "substância" é essa que em toda sociedade produz essas duas instâncias e as mantém dentro de uma relação de dominação, onde a primeira exerce o domínio sobre a segunda? Essa "substância" é o poder, substrato da própria formação das sociedades humanas. Em outras palavras, é o poder legitimado pela maioria, que, delegado a uma minoria, constitui a base material que possibilita a própria formação do Estado. (...continua ...)
João Rego é psicanalista, mestre em ciência política, membro do Traço Freudiano Veredas Lacanianas Escola de Psicanálise.

sexta-feira, setembro 09, 1994

Os Desafios da Democracia

João Rego - Artigo publicado no Jornal do Commercio em 9 de Setembro de 1994



Em um regime democrático, as demandas e desafios, tanto para a classe política como para a sociedade civil, exigem bem mais maturidade política que nos regimes autoritários ou nos de transição para a democracia.

Diferentemente do autoritarismo, onde se vivia e morria por grandes causas, capazes de incendiar de paixão o imaginário das pessoas, em uma democracia corre-se o risco de se conviver com o mais terrível dos males que pode acometer o ser humano: o tédio, a desesperança e a mesmice, conseqüência da constatação de que podemos ser obrigados a conviver com altos níveis de mediocridade no processo político, as vezes insuportáveis.
Mas democracia, frequentemente, pode ser isto mesmo!!!

É exatamente sobre este cansaço cívico que pretendemos refletir.
É importante ultrapassarmos certas certezas construídas ao longo de toda uma geração que lutou contra o autoritarismo e que ardeu de paixão política pela volta da democracia no país. O determinismo, tirado não sei de onde, que nos motivava a acreditar, quase que num gesto de fé, no fim do regime autoritário, foi substituído pela incerteza. (...continua ...)


João Rego é psicanalista, mestre em ciência política, membro do Traço Freudiano Veredas Lacanianas Escola de Psicanálise.

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sábado, abril 16, 1994

Partido político e dominação no Brasil pós-79.

João Rego - Artigo publicado no Jornal do Commercio em 16 de abril de 1994

Aquele que se interessar em estudar o fenômeno partido político, irá encontrar sobre esse objeto uma diversificada gama de definições que variam de acordo com a formação ideológica e com os interesses de quem procurou defini-lo. Desta forma, é possível encontrar desde a visão liberal do partido como instrumento de representação legítima da sociedade civil, até o conceito de partido como principal meio de transformação revolucionária da sociedade.

Situando-o em uma percepção do processo político como sendo, essencialmente, uma relação de dominação de uma elite política sobre a sociedade civil, o partido político assume o papel de principal meio de conquista e reprodução do poder por parte de uma elite política em uma sociedade moderna.

Essa exposição pretende atingir a falsa visão de que no Brasil não existem, ainda, partidos políticos organizados. E o mais impressionante é que são políticos e jornalistas dos mais "ilustrados" que repetem ad nauseaum esta afirmação, numa demonstração evidente de que a desatenção teórica e empírica sobre a realidade pode nos conduzir a uma situação onde se é obrigado a conviver com meias ou falsas verdades como se estas representassem a realidade. (...continua ...)



João Rego é psicanalista, mestre em ciência política, membro do Traço Freudiano Veredas Lacanianas Escola de Psicanálise.

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quarta-feira, março 16, 1994

Ciência Política e Democracia no Brasil


João Rego - Artigo publicado no Jornal do Commercio em 16 de Março de 1994



A compreensão do processo político de uma sociedade moderna é condição fundamental para o aperfeiçoamento das suas instituições políticas e sociais.

Na área da ciência política, quanto maior for a produção científica sobre os componentes estruturadores do processo político em uma sociedade, tais como: partidos políticos, ideologia, sociedade civil, elite política, imprensa e meios de comunicação, dentre outros, mais fortalecida esta se apresentará, possibilitando a manutenção de um ambiente favorável à consolidação de um regime democrático moderno.

No Brasil, por mais conhecimento que se tenha produzido sobre a realidade política e social, ela apresenta ainda um universo desconhecido a ser (re)descoberto através da investigação científica.

Como conseqüência desse desconhecimento sobre os mecanismos que regem as relações políticas no regime democrático que a nação vem experimentando desde o início da década de 80, ainda é predominante na sociedade uma cultura política favorável à reprodução de formas arcaicas de dominação política.

O clientelismo, a corrupção, respaldada pela impunidade, dentro e fora do aparelho do Estado, são traços culturais fortemente enraizados na prática de reprodução do poder por uma parte significativa da elite política nacional. A permanência de tais formas de dominação política no recente processo de democratização pode vir a inviabilizar o projeto de transformação da nação em uma democracia moderna, socialmente mais equânime, politicamente democrática e economicamente forte e influente no cenário político internacional. (...continua ...)


João Rego é psicanalista, mestre em ciência política, membro do Traço Freudiano Veredas Lacanianas Escola de Psicanálise.

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domingo, outubro 18, 1992

O Falso fim da ideologia.

João Rego

Após a queda do muro de Berlim em 1989, marco simbólico do fim da guerra fria e passo inicial para a desagregação da União Soviética em 1991/2, as nações ocidentais assumem historicamente a hegemonia política e ideológica para conduzir os destinos da humanidade neste fim de século e entrada do novo milênio.

Foi o fim de uma experiência de 72 anos em busca da construção de um modelo alternativo de sociedade, que tinha como principal objetivo ultrapassar historicamente as graves contradições sociais e econômicas inerentes ao modo de produção capitalista.

A revolução de 1917 representou uma traumática fratura no desenvolvimento e no próprio processo evolutivo do capitalismo. Com ela, se demonstrou que a humanidade não era um mero joguete nas mãos de uma classe que detinha o controle histórico dos meios de produção; que de objeto passivo, a classe trabalhadora podia ser transformada em sujeito ativo de sua história e de seu destino. (...continua ...)
João Rego é psicanalista, mestre em ciência política, membro do Traço Freudiano Veredas Lacanianas Escola de Psicanálise.

sábado, setembro 12, 1992

Transição para a Democracia: Riscos e Avanços.

João Rego - Artigo publicado no Jornal do Commercio em 12 de Setembro de 1992.


É importante lembrar que a característica principal do retorno à democracia em nosso país foi à negociação pelo alto. Ou seja, o fim do regime autoritário no Brasil foi viabilizado através de uma "transição negociada para a democracia". Neste processo, as forças que estavam no poder só permitiram sua democratização, quando as condições de retorno estavam absolutamente sob controle, e não existia o risco de que as estruturas sócio-econômicas viessem a sofrer rupturas radicais, ameaçando a perda de certos privilégios, como a questão da propriedade privada, por exemplo.

Se por um lado, o processo de distensão política lento e gradual teve a reconhecida vantagem de evitar violências e convulsões sociais, ele trouxe em seu bojo, o elevado risco de impedir que as necessárias transformações sócio-econômicas e institucionais viessem a ocorrer na intensidade e no ritmo que a nação precisa.

As forças políticas e econômicas que detêm a hegemonia do processo político podem frear as transformações estruturais da sociedade, inclusive mantendo a concentração da riqueza a um nível pior do que o vivido durante o período do regime autoritário. (...continua ...)


João Rego é psicanalista, mestre em ciência política, membro do Traço Freudiano Veredas Lacanianas Escola de Psicanálise.

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sábado, março 03, 1990

Social democracia e mudança política.

João Rêgo, Artigo publicado no Jornal do Commercio em 3 de março de 1990



O profundo processo de restruturação que atravessa de forma irreversível todos os países do Leste Europeu, demonstra, para aqueles que pretendem refletir e atuar de forma engajada sobre o processo histórico do nosso tempo, a urgente necessidade de se acelerar também no plano ideológico e nos meios intelectuais, a construção de uma nova concepção de mundo, que não só assimile a nova dinâmica que a realidade política apresenta, como também, se antecipe e exerça o seu papel crítico com vistas a garantir os avanços e as conquistadas orientadas para o grande objetivo que secularmente vem sendo perseguido pelas correntes políticas mais progressistas: a construção de uma sociedade economicamente rica, politicamente emancipadora e socialmente justa.


A grande dissidência no pensamento da humanidade surgida com o marxismo, abre de forma definitiva, pela primeira vez na história, a possibilidade concreta de realizar o que os socialistas utópicos perseguiram como verdadeiros loucos visionários: um reino de justiça na terra.
O conceito de luta de classes, o materialismo histórico, o materialismo dialético, a forte visão determinista do fim da sociedade de classes - a construção de um novo Éden na terra -, guiou durante décadas, valorosos intelectuais militares e líderes políticos movidos em sua ação por um profundo e comovedor idealismo humanitário.
(...continua ...)


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quinta-feira, janeiro 18, 1990

A Construção da Democracia

João Rego, Recife, terça-feira, 11 de julho de 1989 - JORNAL DO COMMERCIO


Para aqueles que viveram os anos difíceis do Regime Militar de 64, é extremamente preocupante o atual discurso que começa a se instalar na classe média esclarecida e na opinião pública em geral: o de que o Brasil não tem tradição partidária. Tentam passar uma opinião de que os políticos, em sua maioria, são volúveis (e são!) criando a impressão de que, com raras exceções, (os partidos ideológicos de esquerda) os partidos políticos estão fadados à ineficácia e a desempenharem um papel muito aquém da sua importante missão em um processo político democrático.


Na verdade é necessário, antes de tudo, separar os membros que compõem uma instituição como o poder legislativo, da própria entidade em si. Os homens que fazem à política têm sua participação no processo político de forma transitória, ou seja, o povo os elege, o povo pode substituí-los. A instituição pelo contrário, deve ser vista como uma entidade perene que deve existir ao longo da história de uma nação que se pretende democrática. Quanto mais sólida e eficaz, mais estabilidade e equilíbrio político, econômico e principalmente social, uma nação poderá construir. (continua ...)


João Rego é psicanalista, mestre em ciência política, membro do Traço Freudiano Veredas Lacanianas Escola de Psicanálise.

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