sexta-feira, setembro 30, 1994

Desmistificando a política.

João Rego - Artigo publicado no Jornal do Commercio em 30 de Setembrode 1994
Se formos analisar, de maneira cuidadosa e desapaixonada, o quadro político nacional, mais especificamente o período pós-transição democrática (após 1979), conseguiremos destacar, para efeito de uma visão mais abrangente, duas entidades em sua formação estrutural.

A primeira é a classe (ou elite) política democrática, que vem sofrendo, dentro da dinâmica consolidadora de um regime democrático, importantes transformações, através da atuação das instituições e da sociedade civil, projetando-a para um futuro qualitativamente superior porque estará cada vez mais subordinada, de fato, ao peso do controle das instituições.

A segunda é a sociedade civil, que vem percorrendo um tortuoso e íngreme caminho em busca de cristalizar vetores organizados de ação política a fim de desempenhar bem seu papel no processo democrático.

Que estranha "substância" é essa que em toda sociedade produz essas duas instâncias e as mantém dentro de uma relação de dominação, onde a primeira exerce o domínio sobre a segunda? Essa "substância" é o poder, substrato da própria formação das sociedades humanas. Em outras palavras, é o poder legitimado pela maioria, que, delegado a uma minoria, constitui a base material que possibilita a própria formação do Estado. (...continua ...)
João Rego é psicanalista, mestre em ciência política, membro do Traço Freudiano Veredas Lacanianas Escola de Psicanálise.

sexta-feira, setembro 09, 1994

Os Desafios da Democracia

João Rego - Artigo publicado no Jornal do Commercio em 9 de Setembro de 1994



Em um regime democrático, as demandas e desafios, tanto para a classe política como para a sociedade civil, exigem bem mais maturidade política que nos regimes autoritários ou nos de transição para a democracia.

Diferentemente do autoritarismo, onde se vivia e morria por grandes causas, capazes de incendiar de paixão o imaginário das pessoas, em uma democracia corre-se o risco de se conviver com o mais terrível dos males que pode acometer o ser humano: o tédio, a desesperança e a mesmice, conseqüência da constatação de que podemos ser obrigados a conviver com altos níveis de mediocridade no processo político, as vezes insuportáveis.
Mas democracia, frequentemente, pode ser isto mesmo!!!

É exatamente sobre este cansaço cívico que pretendemos refletir.
É importante ultrapassarmos certas certezas construídas ao longo de toda uma geração que lutou contra o autoritarismo e que ardeu de paixão política pela volta da democracia no país. O determinismo, tirado não sei de onde, que nos motivava a acreditar, quase que num gesto de fé, no fim do regime autoritário, foi substituído pela incerteza. (...continua ...)


João Rego é psicanalista, mestre em ciência política, membro do Traço Freudiano Veredas Lacanianas Escola de Psicanálise.

web site: www.psicanalise.org